rascunho

far out

10 de junho de 2008

peace frog announces blood in the street

as manifestações, em que se geram distúrbios entre os interessados e causam feridos e mortes dentro do grupo, são do mais estúpido que existe.

men do their best to kill each other


Bird of Prey



agora há aí uma cena do FatBoySlim... mas fica o original de Jim Morrison

incoerências

do credo que lhe vai na boca. a noite em solidão ansiosa. o credo que lhe fecha os lábios. espera. a espera. o silêncio no ruído do sangue em circulação. a pele fria. o credo pela ignorância.

o telefone toca. do outro lado uma voz humana questiona a verdade que se reflecte na distância entre o lado de dentro da porta e o lado de fora da porta.

a verdade resume-se no trinco da fechadura, que, habitualmente, se encontra a meio caminho.

29 de maio de 2008

ruído para uma destas noites

os sentidos percorrem medos. enquanto os medos se ocultam por detrás dos olhos cerrados dum adulto. e a vida acontece. e o calendário corre os dias. e os dias esquecem-se como os desconhecidos que se cruzam comigo. mas a mágoa, que se sobrepõe ao sonho, essa, regista-se no presente como tinta tatuada na pele.

24 de maio de 2008

tudo



no meu ecrã
sou eu que mudo tudo
mas tudo
já está escrito


[Alberto Pimenta, in Tanto Fogo e Tanto Frio | O Último Sonho de Olímpio]


17 de maio de 2008

Praia de Santa Rita


Não há muitas tardes assim.
O vento chegava quase devagar
ao teu e ao meu rosto, o mar
fazia-nos parecer mais juntos,
o próprio sol era uma carícia
— enquanto um mosquito
assediava o meu copo de cerveja.

Mas chegaram os das roulottes,
em busca de mesa, obrigando-nos
à sua voz motorizada, suspensa
entre palitos. Lembrei-me, claro,
desse nojo atávico, das tendas
inabitáveis da infância, de tudo o que fez
de mim um instrumento do desastre,

alguém que já não encontra o esquecimento
na espuma de cervejas mortas
e conhece todos os antónimos de beleza.



[Manuel de Freitas, in Terra sem coroa]

CARPIR


Vamos lá. Vamos lá sorrir um pouco. A vida
é isto: fugir-nos como areia entre dedos;
versos soltos por uma outra manhã, ou
versos soltos aconchegando um féretro...

A vida, que é isto (amigos perdem o gás,
súbitos, e vêm então celebrá-los poetas,
os seus queridos poetas), vai descer à
terra, onde nada cessa e tudo se reagrega.

Zona da grã paciência, lá onde o anjo
que partiu dialogará, enfim, com o fantasma;
e os vivos, entre si, pedem lhes seja concedida
nova manhã de luto e luta. Vamos lá, vamos lá.



[Paulo da Costa Domingos, in Olímpio]


12 de maio de 2008

flyer

em volta do umbigo existe uma irritante volúpia que detesto. diz ela, andando às voltas.

8 de maio de 2008

uma revista

encontro o verso morto à beira da cama. morto na curva da anca. asfixiado pela sofreguidão nocturna. tinha-o guardado para o vender na rua das Naus. vou atirá-lo ao Tejo numa caixa de papel. página de uma revista de formas standard. sem desejo.

7 de maio de 2008

gaveta de papéis

já perscrutei e li algumas coisas. achei que está diferente. melhor sem dúvida. curiosa apresentação. dor sem mágoa sobre o afastamento dos filhos, dos seus, do mundo, presente noutros mundos que também se revelam amorosos, ainda que estrangeiros.

josé luís peixoto não é para parolos, como alguns dizem, é para quem dele gostar uns parolos outros nem por isso, e outros fora disso.

o meu avô era alentejano e comia limões como se fossem laranjas, ao pequeno-almoço. ao jantar era parolo, como todos os limões.